Em nome de Deus…

Isa ou Isa ibn Maryam (“Jesus, filho de Maria”)

TENDA ÁRABE

CRISTIANISMO E ISLAMISMO

Em Nome de Deus, O Clemente, O Misericordioso!

“Dize: Cremos em Deus, no que foi revelado, no que foi revelado a Abraão, a Ismael, a Isaac, a Jacó e às(doze) tribos, e no que, de seu Senhor, foi concedido a Moisés, a Jesus e aos profetas; não fazemos distinção alguma entre eles, porque somos, para Ele, muçulmanos.”

(Al-Qur´an Sagrado, 3ª Surata, versículo 84)
Origens do Islamismo e cristianismo

Juntamente com o Judaísmo, eles remontam ao Profeta e Patriarca Abraão. Se três profetas são descendentes diretos de seus filhos – Mohammad descende do primogênito, Ismael, Moisés e Jesus descendem de Isaac.
Abraão estabeleceu as bases do que chamamos hoje a cidade de Meca, e construiu a Caaba, em direção da qual todos os muçulmanos se voltam quando oram.

O papel de Jesus para a religião muçulmana:

“Jesus é considerado um grande profeta pelo islã, o profeta da interioridade, da santidade. Seu nome é Seydna Issa, ou Senhor Jesus. Ele é um dos principais profetas do Islã, ao lado de Mohammad , Moisés (o profeta dos judeus), Abrãao e Noé. Ele é o profeta da ‘interioridade’ porque, entre outras coisas, disse: ‘O meu reino não é deste mundo’. A mensagem de Jesus é uma mensagem claramente espiritual, ao contrário de outros profetas, como Moisés ou Mohammad que também trataram de coisas econômicas, sociais, legais etc. É curioso que há místicos do Islam, como Ibn Arabi (medieval) que escreveram bastante sobre Jesus e dizem ter tido até ‘êxtases’ e ‘iluminações’ através dele. Não é, contudo, visto como verdadeiro Homem e verdadeiro Deus, como diz a teologia cristã”.

O papel da Virgem Maria para o Islamismo:

Ela tem um papel importante também, a Virgem Maria é considerava a mulher mais perfeita, o exemplo perfeito do papel da mulher. O islamismo aceita que engravidou virgem e que Jesus foi concebido por intercessão divina.

Mateus Soares de Azevedo, autor de “Mística Islâmica” (ed. Vozes)
Página Revisada por: Sheik Salah Sleiman

http://www.tendarabe.hpg.ig.com.br/religiao/cristianismo.htm

De um lado a outro… o silêncio, a ausência, o desatino!

 Imagem_Ilya Repin, Sobre uma Ponte em Abramtsevo, 1879

 

A PONTE INVISÍVEL

Caminho sobre a lâmina fria do silêncio e da ausência
Fria ponte que me conduz além do abismo!
A lugar nenhum?!
Escorregadia, muito cuidado ao passar
Se cair, ninguém há de notar
Ninguém há de saber
Ninguém há de ouvir
Pregou-se-me a língua ao céu da boca
Na profundeza abissal, o caos!
Na profundeza abissal, a tenebrosa noite
Mas, do caos, também nasce a harmonia
Bálsamo consolador para aliviar a dor de tantos cortes
Alguns profundos, outros nem tantos
A travessia, por esta ponte invisível
Parece infinita e, quase impossível
Ponte de lamina fria, feita de silêncio e ausência
Silêncio
Puro ouro
Moeda de troca com o vigia de um olho
Misto de homem pirata
Meio monstro,
Meio fantasma
Que posta-se vigilante, do outro lado da ponte
Da ausência, porém…
Nada tenho a dizer!

SIMPLESMENTE MULHER

Este poema é dedicado a P. que, em um dia de costumeiro mal-humor, entre uma multidão de textos e autores, escolheu a mim  para destratar; escolheu a mim com quem ser desagradável, e, no comentário que se seguiu ao poema que eu tinha escrito, bem simples, bem fácil, disse que minhas rimas eram chatas / fracas e o título, pior ainda, puro clichê. Mas, sabem, vamos ser razoáveis, sei de P. duas ou três coisas que vocês não sabem e que enfim, não serão ditas aqui … P. não me abalou com sua opinião… P. ao contrário, me clareou as idéias e a argumentação. De P. posso apenas dizer que ele “se acha”, sim… P. é o tipo do cara que “se acha” e “acha” o máximo ser chato, “acha” o máximo ser desagradável… Um cara que “joga” e provoca apenas pra sacudir o marasmo de seu viver… Que fazer? P. é um cara em corpo de homem, mas com a mentalidade de um menino, lembrem-se que sei de P. duas ou três coisas que prefiro nem falar, posso apenas dizer que P. se recusa a crescer, sente medo de sair, abandonar a Terra do Nunca… P. quer ser Peter Pan… P. se recusa a ser SIMPLESMENTE HOMEM. Não falo assim de P. porque não gostou de minhas rimas ou do título tão lugar comum de meu poema, P. me causa mágoa por ser um cara destituido de generosidade, de solidariedade, de emoção e, embora P. seja este sujeito tão tristonho / medonho P. tem muita sorte… P. tem alguém que o ama de verdade, pasmem… P. é amado por uma MULHER / esposa / amante que o aceita do jeito que é… P., que achou minhas rimas chatas / fracas e o titulo clichê de meu poema pior ainda, vive a mais “clichê” das situações… UM AMOR SINCERO… P. achou sua cara metade, sua alma gêmea, sua outra parte da maçã, e, apesar de tudo, apesar de ter e viver algo que muitos querem e sonham, P. é um terror…“acha” o máximo ser assim, e sente vergonha de “um amor tão delicado” que lhe é dedicado, não o reconhece, despreza / esquece aquela que está ao seu lado e ousa ser SIMPLESMENTE MULHER…

 

Mulher no canto
Mulher encanto
Mulher desencanto
Mulher espanto
Mulher nem tanto

 

Mulher ingrata
Mulher grata
Mulher gata
Mulher rata
Mulher cheia de graça
Mulher desgraçada
Mulher descabelada
Mulher desengonçada

 

Mulher distante
Mulher amante
Mulher cortante
Mulher tratante
Mulher irritante
Mulher fascinante
Mulher mutante

 

Mulher forte
Mulher fraca
Mulher primeira
Mulher segunda
Mulher terceira
Mulher caseira
Mulher altaneira
Mulher festeira
Mulher brincadeira

 

Mulher velha
Mulher sábia
Mulher fada
Mulher chata
Mulher amada
Mulher bala
Mulher pacata
Mulher mal-amada

 

Mulher sofrida
Mulher vadia
Mulher da vida
Mulher cantiga
Mulher poesia

 

Mulher demente
Mulher presente
Mulher ausente
Mulher doente

 

Mulher boa
Mulher boba
Mulher “loira”
Mulher à toa

 

Mulher nova
Mulher formosa
Mulher gostosa
Mulher fogosa
Mulher aurora
Mulher da hora

 

Mulher nobreza
Pura certeza
Vestida de mistério
Revestida de grandeza
Despida de sutilezas

 

Mulher vento
Mulher terra
Mulher fogo
Mulher água

 

Tempestade que desaba
Noites tormentosas
Dias de calmaria
Dias de bonança

Amargas / doces lembranças
Mulher esperança / refúgio
Do homem fraco / forte / rico / pobre
Vil / apaixonado / poderoso / inconstante
Que mesmo falho / medroso / fervoroso / vacilante
Não deixa de ser nunca o pai / o filho / o amante.

Era uma vez, a menos de mil milhas daqui…”

A HISTÓRIA DE MUSHKIL GUSHA, O DISSIPADOR DE TODAS AS DIFICULDADES!

Dizem que, quando, determinado número de pessoas se encontram reunidas e entre elas reina a harmonia, temos o que chamamos um acontecimento, embora nas culturas contemporâneas, geralmente, não seja entendido assim, já que para essas culturas um “acontecimento” é algo que acontece e impressiona a todos por meio de impactos subjetivos. Isto seria o que alguns tratariam como um “acontecimento inferior”, pois ocorre num “mundo inferior”; o das relações humanas, facilmente produzidas, sintetizadas e comemoradas.

O verdadeiro acontecimento, do qual o acontecimento inferior é somente uma útil semelhança (nem mais nem menos), é aquele que pertence ao domínio superior, que, por sua vez, não pode ser interpretado adequadamente mediante uma representação terrestre convincente sem deixar intacta a exatidão. Algo de imensa importância em um domínio superior, jamais poderá ser expresso, por completo, em termos literários, científicos ou dramáticos, sem que se perca o seu valor essencial. Entretanto, certos relatos, sempre que contenham elementos da área do conhecimento superior, por mais que possam parecer absurdos, inverossímeis, improváveis, ou, até mesmo, defeituosos, podem – junto à presença de certas pessoas – comunicar o acontecimento superior em questão a região apropriada da mente.

É importante que seja assim, porque a familiaridade com o “acontecimento superior” como quer que isso ocorra, capacita a mente do indivíduo a operar no domínio superior. O conto de Mushkil Gusha é um exemplo. A “falta de nitidez” no tema, a própria “ausência de plenitude nos acontecimentos e também de fatores que estamos acostumados a esperar em uma história são, neste caso, indicações do paralelismo superior”.

 

Era uma vez…

a menos de mil milhas daqui um pobre e velho lenhador viúvo que vivia com sua pequena filha.

Todas as manhãs, ele costumava ir à montanha cortar lenha, a qual trazia para casa, depois de atá-la em feixes. Após a primeira refeição, o velho então, caminhava até a cidade mais próxima, aonde vendia a sua lenha e assim que descansava um pouco voltava para casa.

Um dia, ao chegar em casa, já muito tarde, a menina lhe disse: “Pai, algumas vezes eu gostaria de ter uma comida melhor para comer, com mais fartura e diferentes tipos de coisas”.

“Está bem, minha filha”, disse o velho, “amanhã me levantarei mais cedo do que o costume; irei mais longe nas montanhas, onde há mais madeira, e trarei para casa uma quantidade de lenha bem maior que a habitual. Chegarei cedo, pois assim poderei enfeixá-las mais depressa para ir até a cidade vendê-la, de modo que tenhamos muito mais dinheiro, e, ao regressar, trarei para ti toda espécie de coisas deliciosas”.

Na manhã seguinte, o lenhador se levantou antes do amanhecer e foi para as montanhas. Trabalhou duro, cortando e aparando lenha, que depois atou em um enorme feixe que carregou nas costas até sua casa.

Quando chegou em casa ainda era muito cedo. Ele pôs a carga de lenha no chão e chamou à porta, dizendo: “Filha, filha, abra a porta. Tenho fome e sede e preciso comer alguma coisa antes de ir ao povoado”.

Mas a porta continuou trancada. O lenhador estava tão cansado, que se deitou no chão e prontamente adormeceu ao lado do feixe de lenha. A menina tendo esquecido por completo da conversa da conversa da noite anterior, ainda dormia. Quando o lenhador despertou, o sol já ia alto. Bateu de novo a porta e disse: “Filha, filha, venha depressa, pois já passou muito da hora em que costumo ir ao mercado”.

Mas a menina tendo esquecido a conversa da noite anterior, se levantara, limpara a casa e saíra a dar um passeio. Fechara a porta, supondo, em seu esquecimento, que seu pai ainda estivesse no povoado.

Então, pensou o lenhador: “É tarde demais para ir ao povoado. Portanto, regressarei às montanhas e cortarei outro feixe de lenha que trarei para casa, e, amanhã, levarei uma carga dobrada ao mercado para vender”.

O velho lenhador trabalhou arduamente o dia inteiro, cortando e empilhando lenha. Já era noite quando chegou em casa com a lenha sobre os ombros. Depositou a carga de lenha no chão, atrás da casa e bateu a porta, dizendo: “Filha, filha, abre a porta; estou cansado e faminto. Tenho uma dupla carga de lenha que espero levar amanhã ao mercado. Devo dormir bem esta noite para recuperar minhas forças”.

Porém, não houve resposta, pois a menina, ao voltar para casa, sentia muito sono. Preparou a comida e foi se deitar. A princípio, preocupou-se com a ausência de seu pai, mas se tranqüilizou ao pensar que ele havia decidido passar a noite no povoado.

O lenhador, percebendo que não podia entrar em casa, cansado, com fome e sede, deitou-se ao lado dos feixes de lenha e adormeceu. Não pode se manter acordado, apesar do receio pelo que pudesse ter acontecido a sua filha.

Por sentir muito frio e fome e estar por demais cansado, o lenhador despertou na manhã seguinte antes mesmo do dia clarear. Sentou-se e olhou ao redor, mas não pode ver nada, então ocorreu algo estranho. O lenhador ouviu uma voz que lhe disse: “Depressa, depressa! Deixa tua lenha e vem por aqui. Se, necessitas muito e desejas pouco terás um alimento delicioso”.

O velho homem se levantou e caminhou em direção a voz. Andou, andou, mas nada encontrou. Estava agora com mais frio, fome sede e cansaço do que antes, e além de tudo, certamente perdido. Havia estado cheio de esperanças, mas isto não parecia tê-lo ajudado. Sentiu-se triste, com vontade de chorar, mas se deu conta que chorar tampouco iria lhe adiantar de modo que se deitou e adormeceu.

Pouco depois, despertou, pois fazia muito frio e tinha fome demais para continuar adormecido. Assim, decidiu contar para si mesmo, como se fosse um conto, tudo o que lhe havia acontecido desde que sua filha lhe dissera que desejava um alimento diferente.

Quando acabou de contar sua própria história, acreditou ouvir novamente a voz, vinda do alto, como que saindo do amanhecer, que lhe disse: “Velho homem, que fazes aí sentado?”.

“Estou a me contar a minha própria história”. Respondeu o lenhador.

“E como é?”.

E o velho lenhador repetiu toda a sua história, outra vez.

“Muito bem”. Disse-lhe a voz e em seguida, mandou que ele fechasse os olhos e subisse um degrau.

“Mas não vejo degrau nenhum”. Disse o lenhador.

“Não importa”, disse a voz, “faz o que te mando”.

“O velho fez o que lhe era mandado. Assim que fechou os olhos, encontrou-se de pé, e, ao levantar seu pé direito, sentiu que havia algo sobre ele; algo assim como um degrau. Começou a subir o que parecia ser uma escada. De repente, os degraus puseram-se a se mover muito rapidamente e então, a voz lhe disse: “Não abras os olhos até que eu te diga.” Quase em seguida, a voz ordenou que abrisse os olhos e ao fazê-lo, ele viu que se encontrava num lugar que se parecia a um deserto, como um sol ardente sobre sua cabeça. Estava rodeado por uma grande quantidade de pequenas pedras de todas as cores: vermelhas, verdes, azuis e brancas. Parecia estar só. Olhou ao redor e não viu ninguém, mas a voz recomeçou a falar: “Pega quantas pedras puderes, depois fecha os olhos e desce novamente os degraus”.

O lenhador fez o que lhe foi dito e quando a voz ordenou e ele tornou a abrir os olhos, eis que se encontrava diante da porta de sua casa. Chamou, e desta vez, sua filha veio atender. Ela lhe perguntou aonde ele havia estado e o lenhador contou tudo o que lhe tinha acontecido, ainda que a menina dificilmente pudesse compreender, pois tudo lhe parecera tão confuso…

O velho lenhador entrou em casa, e ele e sua filha compartilharam o último alimento que tinham; um punhado de tâmaras secas. Quando terminaram, o lenhador ouviu uma voz que lhe falava: “Ainda que não o saibas, foste salvo por Mushkil Gusha. Lembra-te que Mushkil Gusha está sempre aqui. Assegura-te, a cada noite de quinta-feira, de comeres algumas tâmaras e dares outras a algum necessitado a quem hás de contar a história de Mushkil Gusha ou então, em nome de Mushkil Gusha, dê um presente a alguém que ajude aos necessitados. Faça com que a história de Mushkil Gusha jamais seja esquecida. Se assim o fizeres e o mesmo for feito por aqueles a quem contares a história, as pessoas que tiverem verdadeira necessidade haverão de encontrar o seu caminho”.

O lenhador colocou todas as pedras que trouxera em canto de sua cabana. Pareciam simples pedras e ele não sabia o que fazer com elas.

No dia seguinte levou seus dois enormes feixes de lenha ao mercado e os vendeu facilmente por um alto preço. Ao voltar para casa, levou para sua filha toda espécie de coisas deliciosas as quais, ela, até então, jamais havia provado. Quando terminaram de comer, o velho lenhador disse: “Agora vou te contar a história de Mushkil Gusha, o dissipador de todas as dificuldades. Nossas dificuldades foram dissipadas por Mushkil Gusha e devemos sempre lembrar-nos disso”.

Ao longo da semana seguinte, o velho lenhador seguiu sua vida como de costume. Ia às montanhas, trazia lenha, comia alguma coisa, levava a lenha ao mercado e a vendia, sempre encontrando comprador, sem dificuldade.

Quando chegou a quinta-feira seguinte, como é comum entre os homens, o velho lenhador se esqueceu de contar a história de Mushkil Gusha. Nessa noite, apagou-se o fogo na casa dos vizinhos e eles não tinham nada com que o reacender. Assim, foram à casa do lenhador e lhe disseram: “Vizinho, vizinho, dê-nos, por favor, algumas destas tuas maravilhosas lamparinas”.

“Que lamparinas?” Perguntou o lenhador.

“Vem aqui fora e verás”. Responderam os vizinhos.

Então o lenhador saiu e viu, através de sua janela, que, realmente, de dentro de sua casa, partia uma imensa quantidade de luz. Tornou a entrar e constatou que as luzes saiam do monte de pedras que havia deixado em um canto de sua cabana. Mas, os raios de luzes eram frios e era impossível usá-los para acender fogo, de modo que saiu e disse aos vizinhos: “Sinto muito vizinhos, mas não tenho fogo” e então lhes fechou a porta na cara.

Os vizinhos ficaram aborrecidos e confusos e voltaram resmungando para casa, mas aqui eles abandonam a nossa história.

O lenhador e sua filha cobriram rapidamente as brilhantes luzes com quantos panos puderam encontrar, com medo de que alguém pudesse ver o valioso tesouro que possuíam.

Na manhã seguinte, ao retirarem os panos, descobriram que as pedras eram preciosas gemas luminosas e uma por uma, levaram-nas às cidades vizinhas onde venderam-nas por um ótimo preço.

Então, o lenhador resolveu construir um palácio para ele e sua filha. Escolheram um lugar que ficava bem em frente ao castelo do rei daquele país. Em pouco tempo, um maravilhoso edifício havia tomado forma.

Esse rei tinha uma linda filha que ao despertar, certa manhã, deparou-se com um castelo que parecia saído de um conto de fadas bem em frente ao de seu pai, e ficou muito surpresa. Perguntou aos servos: “Quem construiu esse castelo? Que direitos tem essa gente para fazer algo assim tão perto de nosso lar?”.

Os servos saíram e foram averiguar e ao retornarem contaram à princesa o que haviam descoberto.

A princesa mandou chamar a filha do lenhador, pois estava muito zangada com ela, mas quando as duas meninas se encontraram e conversaram, logo se tornaram boas amigas. Reuniam-se todos os dias e iam juntas brincar e tomar banho no regato que o rei mandara construir para a princesa.

Alguns dias depois do primeiro encontro, a princesa tirou de seu pescoço um lindo e valioso colar e o pendurou em um galho de uma árvore, à margem do riacho. Esqueceu-se de pegá-lo ao sair da água e, quando chegou em casa, pensou que o tivesse perdido. Pouco depois, porém, a princesa pensou melhor e chegou à conclusão de que a filha do lenhador o tinha roubado. Contou ao seu pai, que então mandou prender o lenhador; confiscou o castelo e assim como todos os seus bens. O velho lenhador foi jogado em um calabouço e sua filha, internada em um orfanato.

Como era costume naquele país, depois de um certo tempo, tiraram o lenhador do calabouço e o prenderam a um poste em praça pública, com um cartaz pendurado ao pescoço, no qual se lia: “Isto é o que acontece àqueles que roubam aos reis”.

A princípio, as pessoas se reuniam ao seu redor, zombando e lhe atirando coisas. O lenhador se sentia muito infeliz. Entretanto, em pouco tempo, como é comum entre os homens, se acostumaram a vê-lo ali, sentado junto ao poste. Já quase não lhe prestavam atenção. Algumas vezes lhe atiravam restos de comida, outras vezes esqueciam-se dele completamente.

Um dia, o velho lenhador escutou alguém dizer que era tarde de quinta-feira e de súbito, lembrou-se de que logo seria noite de Mushkil Gusha, o dissipador de todas as dificuldades, a quem ele havia se esquecido de comemorar a tanto tempo.  Tão logo esse pensamento lhe veio à mente, um homem que por ali passava jogou-lhe uma pequena moeda, então o lenhador o chamou e disse: “Generoso amigo, dás-me dinheiro que, para mim, de nada serve. Entretanto, se tiveres a bondade de comprar umas tâmaras e vir comê-las comigo eu te ficarei eternamente grato”.

O homem foi e comprou algumas tâmaras. Sentaram-se e comeram-nas juntos. Quando terminaram, o lenhador lhe contou a história de Mushkil Gusha.

“Acho que deves estar louco”. Disse o homem. Mas, era uma pessoa bondosa que, por sua vez, também passava por grandes dificuldades, mas ao chegar em casa, naquela noite, percebeu que todos os seus problemas haviam desaparecido e isto fez que começasse a pensar muito a respeito de Mushkil Gusha, mas aqui ele abandona a nossa história.

Na manhã seguinte, a princesa voltou ao regato onde costumava se banhar. Quando ia entrar na água, viu lá no fundo o que parecia ser o seu colar. Ao mergulhar para pegá-lo, espirrou, voltando a cabeça para trás e percebeu que aquilo que tomara pelo seu colar, era apenas o seu reflexo na água. O colar estava pendurado no galho da árvore onde o havia deixado há muito tempo. A princesa pegou o colar e rapidamente foi até seu pai contar o que tinha acontecido.

O rei ordenou que libertassem o lenhador e lhe fossem pedidas desculpas públicas. A filha do lenhador foi tirada do orfanato e todos viveram felizes para sempre.

Estes são alguns dos incidentes da história de Mushkil Gusha. É um conto muito longo e que nunca termina. Tem muitas formas e algumas delas nem são chamadas de “história de Mushkil Gusha” e por isso, as pessoas não a reconhecem; mas, é por causa de Mushkil Gusha que sua história, em qualquer uma de suas formas, será sempre lembrada, de dia ou de noite, em qualquer lugar do mundo, onde quer que haja pessoas. Assim sua história será sempre contada e continuará sendo, para todo o sempre.

Querem repetir a história de Mushkil Gusha nas noites de quinta-feira e assim ajudá-lo em seu trabalho?

Pequenas princesas

Foto_Pedro Paulo Vieira


Carinhas cujas emoções não se podem ler, descrever

com certeza

Minha interpretação causa-me insatisfação

Intrigante estranheza

Despertam-me as duas pequenas

Incógnitas princesas

De um país distante

Aprisionado em um sonho

Delas? Meu ou seu?

Silêncio!

Lanternas chinesas, lanternas vermelhas…

Foto_Pedro Paulo Vieira

 

 

Nem flores

Nem lanternas

ou tímidas capelas

Vá lá, talvez sejam

brincos de princesas!

Que nada

De fato, jóias raras

Mas são apenas três lindos

Balões chineses

Pendurados

Com fios dourados

Revestidos por brilhante papel de seda

Impossíveis retalhos

Ostentosas túnicas vermelhas

De orgulhosos, vistosos imperadores

 

Croniqueta

CADÊ A VELHA?!


Essa mania que o povo tem de chamar os outros de tio, tia, vô, vó, fez minha tia (tia mesmo, de verdade, irmã de minha mãe) lembrar de um fato ocorrido já faz algum tempo, uns dez anos pelo menos. Minha tia, hoje em dia, é “quase velha”, como ela mesma costuma dizer, mas naquele tempo estava longe de se sentir assim!

Então, vinha ela andando pela rua, muito tranqüila, bem do jeito dela de ser, quando, de repente, ouve um berro de um homem que estava a ajudar um motorista a dar a ré em um caminhão: “Cuidado com a velha, cuidado com a velha!”

A tia levou um tremendo susto e olhou pros lados a procurar “a velha” a fim de avisá-la do perigo, mas, foi aí que se tocou… não adiantava procurar a “velha” pois a “velha” era ela!

O deserto é tão vasto, tão amargo, tão solitário!

O REI FAZEDOR DE DESERTO

Do conto de José Saramago A história do rei que fazia desertos;

A BAGAGEM DO VIAJANTE; pág.89; Edt. Companhia das Letras

 

Versão: Virgínia Allan

 

 

 

E quem isto ler (ou ouvir) e não for contar,

Em cinza morta se há de tornar


Assim começava o poeta a narrar a historia de um rei que nascera com um defeito no coração. Eu, por minha vez, tenho o dever de contá-la (e vocês mais adiante) antes que seja alcançado por sua maldição. Então… Era uma vez um rei, que vivia em um imenso palácio (sabem todos como costuma ser um palácio de um rei) cercado de desertos por todos os lados, menos, segundo o poeta, por um. Já disse que este rei nascera com uma grave deficiência no coração, digo-o agora novamente; deficiência esta que o fazia agir de acordo com o gosto da dita mazela, sina maldita que, enfim, o governava. Desse modo, obedecendo aos desarranjos desarrazoados da doença que lhe afetava o coração, o rei, puro nonsense, mandou arrasar os campos que havia ao redor do palácio, e o fez de tal maneira, que, pela manhã ao dirigir-se à janela de seu quarto, podia ver toda ruína e desolação, engendrados, do início ao fim do horizonte.

 

E quem isto ler (ou ouvir) e não for contar,

Em cinza morta se há de tornar


Rés ao palácio, na parte de trás, lembrando mais uma ilha, sobrava um espaço mui pequeno, rodeado por um muro e que ali ficara simplesmente por estar a salvo dos olhares nervosos do rei, que se deleitava bem mais nas vistas da nobre fachada. Mas, certa feita, porém, acordou o dito cujo sedento de outros desertos e daí lembrou-se do terreirinho de um outro poeta, da corte, que, pelo que se contava à boca pequena, era um bajulador de primeira, babão como a língua de um cão de estimação (me desculpem se os aborrece a colocação, mas assim ouvi esta história e assim a repasso) que, outrora ousara comparar seu quintalzinho a um espinho que ferira a rosa, que em seu dizer, era o castelo do monarca. Foi então o real soberano dar à volta na real morada investido, de cima abaixo de toda a sua soberania, levando cortesãos e executores de seus mandos e quem mais quisesse lhe acompanhar, pousar o olhar torto no branco muro do quintalzinho, a cobiçar os ramos das árvores que lá por dentro havia crescido. Admirou-se o rei de sua complacência com tamanho acinte e deu imediatamente ordens aos empregados que pularam imediatamente o muro, com enorme alarido, munidos de serrotes, a cortarem as copas que por cima surgiam.

 

E quem isto ler (ou ouvir) e não for contar,

Em cinza morta se há de tornar


O rei olhou o resultado, seria o bastante?Consultou seu coração defeituoso, e concordou que o muro também deveria vir abaixo. A um sinal, avançaram máquinas pesadíssimas, que levavam pendentes grandes bolas de ferro, que, com uma só balouçada, estrondos e nuvens de poeira, o puseram em terra. Num instante apareceram aos olhos de todos os troncos degolados, mutilados das árvores, as culturinhas, e, no outro extremo, uma casa coberta por inteiro de campainhas azuis.

 

 

E quem isto ler (ou ouvir) e não for contar,

Em cinza morta se há de tornar


Pelos pequenos espaços deixados entre as árvores, via o rei os confins do horizonte, mas, contudo, porém, todavia bateu-lhe o receio de que, de repente, os ramos tornassem a crescer e viessem a perfurar-lhe, quiçá até mesmo arrancar-lhe os olhos, e assim deu novas ordens e uma multidão insana de homens lançou-se ao quintal e arrancou as árvores, ou o que restavam delas, uma por uma, pela raiz e ali, bem em frente ao rei, foram lançadas ao fogo, que se alastrou às outras espécies, e, diz-se, ainda conforme o poeta, que por conta disso, a corte organizou um baile, que o rei, acompanhado apenas de sua arrogância e imponência, abriu sozinho, sem uma dama, porque, como já foi dito antes, ele padecia de um defeito no coração.

 

E quem isto ler (ou ouvir) e não for contar,

Em cinza morta se há de tornar


Um vento furioso passou e apagou as ultimas labaredas, arrastando o fumo para o fim do horizonte, já então havia terminado a dança. Bastante cansado, o rei foi sentar-se em seu trono de carregar e sair à rua, que bem poderia ser um palanquim, para dar o beija-mão, enquanto carrancudo mirava a casa e as campainhas azuis. De súbito, nova ordem, e num instante já não havia mais casa ou campainhas azuladas, nem nada mais, nem outra coisa sequer, a não ser, finalmente o deserto.

 

E quem isto ler (ou ouvir) e não for contar,

Em cinza morta se há de tornar

 

Para o rei de coração defeituoso, malicioso, o mundo atingira agora a mais rara e graciosa perfeição. E já se preparava para voltar, feliz da vida, ao palácio, quando das ruínas da casa de campainhas azuis levantou-se uma sombra que postou-se a caminhar em sua direção, caminhava a sombra por cima das cinzas das arvores. Fosse talvez o dono da dita casa, o lavrador do chão, o levantador das espigas. E quando a sombra deste homem andava, cortava a vista do rei, trazendo a linha do horizonte ao pé do palácio, parecendo sufocar.

 

E quem isto ler (ou ouvir) e não for contar,

Em cinza morta se há de tornar

 

O rei, rapidamente, puxou da espada e à frente de toda a corte foi avante para o homem. Agarraram o homem; caíram em cima do pobre coitado, segurando-lhes braços e pernas, e eis que, em meio à confusão apenas se via a espada real, de cima pra baixo, de baixo pra cima a fazer seu trabalho, até que o homem sumiu, desapareceu, submergiu numa enorme poça de sangue. Entretanto, diga-se, foi este o ultimo deserto feito pelo rei, pois quando a noite veio o sangue se espalhou e cercou o palácio, como a roda de um anel, e na noite que veio depois da outra o circulo do anel tornou-se mais largo, e foi alargando-se cada vez, até alcançar o fim da linha do horizonte. Acreditam alguns que é por sobre este mar, que hão de chegar um dia, a navegar, barcos atolados de homens e sementes, mas há também quem afirme que, assim que a terra acabar de beber o sangue derramado não será mais possível nenhum deserto se refazer sobre ela. Amaldiçoados sejam todos os fazedores de deserto!

 

E quem isto ler (ou ouvir) e não for contar,

Em cinza morta se há de tornar

 

 

Nas águas do esquecimento, vão-se todos os tormentos…

La Barca di Caronte_José Vitti

O VELHO DA BARCA
 
 

Bom barqueiro bom barqueiro…
Dá licença de eu passar…?
Carregado de lembranças
Para casa vou voltar…
Vivo estou à margem do Aqueronte
Nem sei como aqui eu vim parar
Perdido por entre clamores e prantos das almas condenadas…
Barqueiro bom barqueiro
Dá licença de eu passar…?
Salvo conduto possuo
Para escapar desse mundo escuro
O precioso raminho de ouro
Dado pela Sibila esperança
Velho Caronte barqueiro amigo
Do rio Aqueronte quero distância
Barqueiro ó bom barqueiro
Dá licença de eu passar?
Carregado de lembranças
Para casa além do mar quero voltar
Barqueiro ó bom barqueiro
É pra lá onde hás de me levar